Quero trocar uma ideia
com você sobre algo que vi e ouvi tempos atrás. Tá afim de embarcar numa
viagenzinha interna? Então simbora.
Lá estava eu com a linda
da senhora minha mãe, Dona Silvana. Fazia um tempo que não ficávamos juntos e
nesse dia em especial decidimos que nosso encontro seria regado de assistir
Master Chef. Ela adora, eu também gosto. Ela foi plugando o youtube (porque
minha mãe é modernosa e só assiste o master chef que mais lhe agrada) e fomos
nos acomodando no sofá.
Nesse episódio os
participantes deveriam fazer um prato que nunca fizeram antes e caiu para uma
das participantes o RISOTO. Finalizada
a prova, a mina do risoto foi apresentar seu prato para os jurados e eis que
ela acabou abusando do sal e o prato ficou ruim, ruim demais, ruim de não ser
possível comer duas garfadas, ruim do tipo de levar esporro dos jurados em rede
nacional. Em toda crítica que recebeu, o direcionamento era pra ela aprender a
dosar a mão, a provar e verificar a comida antes de servir e afins. Então, após
lidar com as críticas e com os desdobramentos de seu erro ela diz: HOJE
EU APRENDI UMA COISA, APRENDI A NUNCA MAIS FAZER RISOTO!
Nessa hora, eu e minha
mãe gritamos juntos: NÃÃÃÃÃÃO
MULÉÉÉÉÉ!!!!
Fiquei pensando na relação que temos com nossos erros. No jeito como olhamos para eles, quase como entidades que nos dizem que precisamos aniquilar aquilo que estávamos tentando. O problema não era o RISOTO, era o sal. O aprendizado deveria consistir em saber dosar o sal, apenas. Em reconhecer que, às vezes, erramos por excesso ou por falta, mas que isso, em nenhuma hipótese deveria representar DESISTÊNCIA IMEDIATA DAQUILO QUE ME PROPUS.
E a gente? O que a
gente faz quando erramos nossas doses de SAL na existência? Quando erramos por
nossos excessos ou faltas? Quando o sabor das coisas em que estamos inseridos
fica intragável? Quando ouvimos feedbacks que soam mais como socos na boca do
estômago? Qual é nossa fala? Qual é nossa postura? Jogamos a responsabilidade
no risoto? Assumimos uma postura de
quem é realmente inferior aquilo que tentou?
E se ao invés disso
nos sentíssemos desafiados por nossos erros? Se nos sentíssemos desafiados
pelas consequências de nossos atos? Se nos propuséssemos a refinar nossas
dosagens até ficarem do jeito mais saboroso possível? E se aprendêssemos a
tirar o melhor de nossas tentativas na vida, justamente por conta dos nossos
erros? E se por conta deles, os erros, nossos caminhos tomaram o rumo mais
adequado para nós? Já experimentou pensar nisso?
Tem uma frase da
Clarice Lispector que gosto muito. Ela diz assim: "Até
cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito
que sustenta nosso edifício inteiro."
Será
que, de fato, nossa existência se resumirá apenas em coisas que preciso
encontrar em mim para remover definitivamente e nunca mais correr o risco de
levar esporros existenciais? Se for assim, o que deixarei de aprender? O que
deixarei de criar? O que deixarei passar de lado? Que ampliações de mim mesmo
jamais experimentarei?
Como diria o
dramaturgo George Bernard Shaw: “Viver
não é encontrar a si mesmo. Viver é criar a si mesmo!”